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Universidade Federal do Ceará
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‘As mãos de Márcia’, um belo reconhecimento do trabalho extensionista

Data de publicação: 13 de janeiro de 2016. Categoria: Especiais, Servidores de Destaque
Profª. Márcia Machado - Pró-reitora de Extensão da UFC

Profª. Márcia Machado
Pró-reitora de Extensão da UFC

Ela espalmou as mãos diante do rosto, demorou alguns segundos observando os dedos e sorriu para os indicadores, curvos e enrijecidos por causa da artrose. Alguém perguntou se ela não se chateava com essa mudança na forma das suas mãos tão bonitas. Ao contrário, ela respondeu, eu fico feliz quando olho para os meus dedos e lembro porque eles ficaram assim.

A artrose nos dedos dessa mulher, que se chama Márcia, são cicatrizes de um par de mãos que ajudou muitas centenas de mulheres ao longo de mais de trinta anos, de casa em casa, orientando e ensinando a delicada e complexa experiência da amamentação.

As mulheres que abriam a porta de suas casas para receber Márcia eram mães desesperadas, sentindo dor, cansadas e cheias de angústia com um recém-nascido nos braços. Era preciso usar a força dos dedos para massagear mamas cheias de leite, rígidas, inflamadas, para posicionar os bebês de forma correta, para tirar o leite, nutrir os filhos e aliviar o sofrimento das mães.

Márcia é enfermeira e começou a orientar seu trabalho para os cuidados com grávidas e bebês de primeiros dias acompanhando o Dr. Galba Araújo, então professor da Universidade Federal do Ceará. Quando o céu exibia uma brilhante lua cheia, os dois partiam para a beira do mar com o intuito de ver o trabalho das parteiras da praia. Eles aprenderam com elas que lua cheia é tempo de nascer.

As parteiras corriam para dar conta da demanda. Tocavam as barrigas e suas mãos experientes conseguiam sentir a posição do bebê, o tamanho, a situação do parto e a necessidade de ir para um hospital, nos casos de complicação. A precisão das mãos das parteiras impressionava a jovem enfermeira, que tinha a humildade e a inteligência de estar ali para aprender com essas mulheres experientes e tomadas de intuição.

Márcia seguiu na carreira acadêmica até um pós-doutorado em Harvard, mas nunca esqueceu as lições das parteiras.

A força nas mãos de Márcia sempre foi inversamente proporcional à doçura de sua voz. Amamentar exige calma e intuição, entrega e coragem e tudo isso vem se perdendo sob a avalanche de propaganda contrária, que vende o leite artificial como a melhor solução para mães cansadas. Uma das maiores belezas do trabalho que ela fez e faz nesses trinta anos é devolver à mãe a capacidade de acreditar na sua natureza e deixar com ela a certeza de que o leite materno é o melhor e mais completo alimento.

Talvez hoje seja impossível contar quantos bebês foram amamentados graças a ajuda dessa mulher. Quantos minutos teria um filme com os rostos de todos eles? Qual o tamanho de um painel com todas as suas fotos? Qual a magnitude dessa herança de saúde e amor que a amamentação plantou na vida de cada um?

É quase mágica o que acontece no corpo da mulher depois de ter um filho. Ela não precisa de nada mais além dos próprios seios, de onde brota o leite. Enquanto amamenta, mãe e filho amplificam o amor nos momentos em que olham nos olhos um do outro. Amamentar é amar em dobro.

De todos os engenhos de Deus, a amamentação é um de Seus feitos mais poéticos. E as mãos fortes de Márcia, sua voz doce e o permanente sorriso, são mensageiros dessa poesia.

Autoria: Socorro Acioli, em Jornal O Povo Online

 

Prêmio Riomar Mulher IV Ed. - Homenagem à Profª. Márcia Machado

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